O CUIDADO DE UNS PELOS OUTROS

Texto Básico: Colossenses 3.16

Leitura Diária:
Domingo: Jo 16.1-24 – A missão do Consolador
Segunda: Ef 4.1-16 – O santo ministério
Terça: Rm 12.1-21 – O uso dos dons
Quarta: 1Co 12.1-31 – Os dons na igreja
Quinta: Cl 3.12-17 – O cultivo dos dons
Sexta: Rm 8.1-39 – O consolo do Espírito Santo
Sábado: Jo 14.16-31 – O Consolador

Introdução

A marca mais evidente de nossa época é o individualismo. Na verdade, o individualismo está presente em nossa sociedade desde a proposta feita a Adão e Eva pela serpente astuta: “É assim que Deus disse: Não comereis der toda árvore do jardim? (…) É certo que não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal” (Gn 3.1-5).

A Bíblia, no entanto, ensina que os dois principais mandamentos são: amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a nós mesmos. Mas, se não amamos a Deus, como poderemos amar ao próximo? Se desconsiderarmos que Deus atua eficazmente em nossa vida, como poderemos imaginar que o próximo poderá nos ser útil em uma vida em sociedade? A tendência, portanto, é viver juntos – mesmo assim, as redes sociais, os edifícios de luxo e outras modernidades afastam uns dos outros – mas totalmente separados. O que interessa para Deus é a proximidade de propósito e a unidade de vida.

Quantas vezes você já foi capaz de dizer “eu preciso de você!”. Qual foi a última vez que você disse isso para sua esposa, seu esposo, seus filhos, um irmão ou uma irmã na igreja? A quem você recorre nos momentos em que precisa de consolo?

Deus determinou que cuidássemos uns dos outros. Vemos, amplamente, por toda a Bíblia, instruções acerca do cuidado mútuo. Nesta lição, examinaremos como o Espírito Santo nos habilita a cuidar uns dos outros, e como devemos praticar isso, visando despertar em nós a necessidade de proximidade e comunhão.

I. Necessitamos uns dos outros

Pelo que lemos nas Escrituras, a soberba é um pecado odioso para Deus, o qual tem consequências desastrosas (Rm 1.28). O orgulho, a vaidade, a autossuficiência, todos derivados de um coração soberbo, são desastrosos, porque impedem, dentre outras coisas, que busquemos ajuda tanto em Deus quanto nas pessoas ao nosso redor. Nós nos consideramos tão autossuficientes, que não vemos no outro um ponto de apoio e refúgio nos momentos de necessidade. Elevamos o “eu” como detentor de razões e soluções. Tornamo-nos individualistas. Achamos que podemos sempre resolver nossos problemas com nossos próprios meios, como se fosse possível renunciar a ajuda das pessoas que estão ao nosso redor.

Por outro lado, nós nos recusamos a oferecer ajuda àqueles que estão sofrendo. Muitas vezes, passamos ao largo, como as personagens da Parábola do Bom Samaritano, que evitaram “se contaminar” com aquele homem caído na estrada (Lc 10.25-37, especialmente os v. 31 e 32). Há muitas pessoas “caídas” por aí e nós, tantas vezes, não nos ocupamos delas, preferindo, tantas outras vezes, julgá-las temerariamente.

A Palavra do Senhor nos ensina que a vida cristã não pode ser vivida isoladamente (Hb 10.25), pois somos uma família (Ef 2.19), escolhida antes da fundação do mundo (Ef 1.4) para viver em comunhão uns com os outros (At 2.42-47), com alegria e devoção e, especialmente, cuidando uns dos outros, pastoreando, aconselhando, admoestando e orando (Cl 3.16-17; Tg 5.16). A vida cristã precisa ser fundamentada no “eu preciso de você”. Devemos declarar uns aos outros a nossa incapacidade de lidar com os problemas, e reconhecer que somos devedores uns aos outros do amor com que somos amados pelo Senhor.

II. A ação do Espírito Santo em nós

Para nos tornarmos membros uns dos outros, carecemos da ação do Espírito Santo em nossa vida. Ninguém pode oferecer o que não possui. Portanto, somente aqueles que têm o fruto do Espírito podem oferecê-lo satisfatoriamente às demais pessoas.

Aprendemos que o fruto do Espírito é: “… amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gl 5.22). Nesse contexto, Paulo afirma que “se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito” (Gl 5.25). Ou seja: os verdadeiros cristãos são preenchidos pela ação do Espírito Santo de Deus e isto os habilita a propagar a verdadeira comunhão de uns para com os outros. Tendo o fruto do Espírito operante não nos deixaremos “possuir de vanglória, provocando uns aos outros, tendo inveja uns dos outros” (Gl 5.26).

O Espírito Santo faz com que nos tornemos amigos uns dos outros, e próximos, a ponto de se alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram (ver Rm 12.9-21). Peter Beyerhaus afirmou:
“A obra do Espírito Santo é tão corporativa como individual. Ele constrói a vida da igreja estabelecendo o elo místico entre Cristo, a cabeça, e a igreja, seu corpo. Mediante essa obra, a presença real do Senhor é sentida na adoração da congregação. Ele equipa a igreja para sua missão por meio de ministérios e serviços vocacionais. Como aquele que convence, ele abre o caminho para o mundo descrente. Os charismata, ou seja, dons espirituais complementares, unem todos os cristãos como membros de um só corpo para o serviço mútuo (1Co 12)” (Peter Beyerhaus, Dicionário de ética cristã, Carl Henry (org.), Editora Cultura Cristã).

De que modo o Espírito Santo, agindo em nós e guiando os anjos do Senhor, nos ensina?

A. Guiando para o ministério

Na experiência de Felipe com o eunuco, vemos o Espírito do Senhor, um anjo, guiar seu servo para o cuidado do outro: “Dispõe-te e vai para o lado do Sul, no caminho que desce de Jerusalém a Gaza; este se acha deserto” (At 8.26). O Espírito do Senhor conduz seus servos para o exercício da obra. Devemos entender essa fala como uma comunicação natural entre o Espírito Santo do Senhor e os cristãos. É claro que não se tratam de “novas revelações”, mas da interação espiritual entre nós e Deus, fruto da providência do Senhor em guiar-nos. É a maneira “mui santa, sábia e poderosa de [Deus] preservar e governar todas as suas criaturas e todas as suas ações, para a sua própria glória” (Catecismo Maior de Westminster, pergunta 18).

B. Provendo para a vida

O Espírito Santo do Senhor provê o sustento para os crentes. Muitas vezes, sem sabermos, Deus está suprindo nossas necessidades mais profundas. Isso enquanto sofremos e imaginamos que o Senhor não se importa conosco. Costumamos pensar que Deus tem prioridades maiores do que cuidar de nós. Mas não é assim. Ele é Deus. Nem o tempo, nem o espaço o limitam; ele pode ouvir todas as orações ao mesmo tempo e dá atenção a todos, sem necessidade de filas ou senhas. O Espírito Santo do Senhor provê nosso sustento e segurança, mesmo quando dormimos: “…aos seus amados ele o dá enquanto dormem” (Sl 127.2). O Espírito também provê para que possamos prover para aos outros: “Não negligencieis a hospitalidade, pois alguns, praticando-a, sem o saber acolheram anjos” (Hb 13.2).

C. Protegendo de todas as coisas

Há vários exemplos na Bíblia em que Deus, por meio de seu Espírito e dos anjos do Senhor, protege seus servos. Um dos casos mais marcantes é o de Daniel e seus amigos, conforme narrado em Daniel 3.28: “Falou Nabucodonosor e disse: Bendito seja o Deus de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, que enviou o seu anjo e livrou os seus servos, que confiaram nele, pois não quiseram cumprir a palavra do rei, preferindo entregar o seu corpo, a servirem e adorarem a qualquer outro deus, senão ao seu Deus”. Podemos nos lembrar de Paulo, e das tantas vezes que o Senhor livrou o apóstolo: naufrágios, picada de víbora, perseguição, etc. Deus tem um propósito sublime em nossa vida e, mesmo quando não percebemos, Deus está nos protegendo de todo mal.

D. Servindo-nos em tudo de que necessitamos

A Bíblia afirma que “O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem e os livra” (Sl 34.7). Aqueles que confiam no Senhor sabem que Deus destina seu santo Espírito para cuidar deles, consolando-os, amparando-os e servindo-os. Quando Jesus Cristo contou aos seus discípulos sobre seu retorno ao Céu, ele disse: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não no vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós” (Jo 14.16-17). Observe os detalhes do texto: (1) Jesus afirma: “ele [o Pai] vos dará”, o Espírito Santo pertence a nós. Ele está conosco por determinação de Deus Pai, a fim de que não fiquemos sozinhos e desamparados; (2) “outro Consolador”, Cristo é nosso Consolador e, ainda assim, Deus, o Pai, nos dará outro, o Espírito Santo, que nos guiará à verdade; (3) “esteja para sempre convosco”, não há nenhum momento em nossa vida em que o Espírito Consolador não esteja presente. (4) “porque ele habita convosco e estará em vós”, duas dimensões: “habita conosco”, ele mora onde estamos, permanece junto de nós, e “está em nós”, porque atua dentro, em nosso interior, onde somente o Espírito pode entrar (cf. Sl 139.23-24).

Se os anjos do Senhor e o Espírito Santo de Cristo agem em nós e nos ensinam, devemos repetir suas ações e, desse modo, abençoar nossos irmãos e irmãs em Cristo. Vejamos que atitudes podemos ter para com nossos irmãos em Cristo, utilizando nossos dons. De acordo com John MacArthur Jr., os principais dons que devemos usar como cristãos são:

1. Profecia (Rm 12.6; 1Co 14.3), capacidade de pregar ou proclamar a verdade de Deus a outros, para edificação, exortação e encorajamento.

2. Ensino (Rm 12.7), capacidade de ensinar as verdades da Palavra de Deus.

3. Fé (1Co 12.9), capacidade de confiar em Deus, sem dúvida ou inquietação, a despeito das circunstâncias. Aqueles que são especialmente inclinados a sentir ansiedade devem procurar pessoas que têm aplicado esse dom e seguir o exemplo delas.

4. Sabedoria (1Co 12.8), capacidade de aplicar a verdade espiritual à vida. Crentes dotados de sabedoria são, também, bons modelos para as pessoas ansiosas.

5. Conhecimento(1Co 12.8), capacidade de compreender os fatos. É o lado intelectual do entendimento da verdade bíblica.

6. Discernimento (1Co 12.10), capacidade de distinguir a verdade do erro – para discernir o que é de Deus e o que é ardil satânico.

7. Misericórdia (Rm 12.8), capacidade de manifestar o amor de Cristo em atos de benevolência.

8. Exortação (Rm 12.8), capacidade de encorajar, aconselhar e confortar os outros com verdade bíblica e amor cristão. Os que são inclinados à ansiedade precisam ter humildade suficiente para ouvir e valorizar o que as pessoas com o dom da exaltação têm a dizer.

9. Doação (Rm 12.8), capacidade de prover para a obra do Senhor e para outros que têm dificuldade de suprir as próprias necessidades materiais. Isso deriva do propósito de confiar suas posses materiais ao Senhor.

10. Administração (Rm 12.8; 1Co 12.28), capacidade de organizar e liderar com empenho espiritual. É um dom chamado de”dom de comandar ou governar”.

11. Ajuda (Rm 12.7; 1Co 12.28), capacidade de servir fielmente “por trás das cortinas”, dando assistência à obra do ministério de forma prática.

Todos esses dons só fazem sentido se forem aplicados individualmente no corpo de Cristo, a igreja. Paulo afirma, enfaticamente, que os dons existem para que o corpo de Cristo seja aperfeiçoado, edificado e cresça (Ef 4.11-13).

Abraham Kuyper escreveu: “A Igreja de Cristo é um corpo e, como os membros crescem a partir de um corpo, e não são acrescentados a ele, vindos de fora, também a semente da igreja deve ser procurada nesta, e não no mundo (…) O próprio Espírito Santo é um dom da graça, mas quando ele concede dons espirituais, ele nos adorna com ornamentos santos (…) os dons são operações adicionais da graça (…) a ação da graça é para nossa própria salvação, alegria e edificação; os dons nos são dados para os outros” (A obra do Espírito Santo, Editora Cultura Cristã).

John MacArthur Jr. enumerou algumas atitudes, que são apontadas na Bíblia e que devem fazer parte de nosso dia a dia na igreja:

1. Confessarmos nossos pecados uns aos outros (Tg 5.16).

2. Edificarmos uns aos outros (1Ts 5.11; Rm 14.19).

3. Levarmos as cargas uns dos outros (Gl 6.2).

4. Orarmos uns pelos outros (Tg 5.16).

5. Sermos benevolentes uns para com os outros (Ef 4.32).

6. Sujeitarmo-nos uns aos outros (Ef 5.21).

7. Sermos hospitaleiros uns com os outros (1Pe 4.9).

8. Servirmos uns aos outros (Gl 5.13; 1Pe 4.10).

9. Consolarmos uns aos outros (1Ts 4.18; 5.11).

10. Corrigirmos uns aos outros (Gl 6.1).

11. Perdoarmos uns aos outros (2Co 2.7; Ef 4.32; Cl 3.13).

12. Admoestarmos uns aos outros (Rm 15.14; Cl 3.16).

13. Instruirmos uns aos outros (Cl 3.16).

14. Exortarmos uns aos outros (Hb 3.13; 10.25).

15. Amar uns aos outros (Rm 13.8; 1Ts 3.12; 4.9; 1Pe 1.22; 1Jo 3.11,23;4.7,11).

Devemos desenvolver nosso ministério, sempre tendo em vista o corpo de Cristo. Devemos estar atentos e ajudar o outro em sua tribulação. Não devemos ser individualistas nem egoístas, olhando apenas nosso próprio umbigo. O crente olha para afrente, adiante, pensando nas pessoas ao seu redor, copiando o exemplo sublime de Cristo, que deu sua própria vida em favor de seus amigos.

Conclusão

O Espírito Santo do Senhor está conosco sempre, ele nos guia, provê tudo de que necessitamos na vida, nos proteges e nos serve dia após dia. O Espírito Santo do Senhor nos ensina a cuidar também de nossos irmãos e irmãs em Cristo. Ele nos dá vida e nos encoraja a andar uns com os outros, suportando uns aos outros, em amor. Se quisermos alcançar o sucesso em nossos relacionamentos, se quisermos nos tornar melhores em nossa vida em comunidade, precisamos prestar atenção no Espírito agindo em nós e agir conforme sua instrução.

Aplicação

Liste algumas atitudes que você pode ter em sua igreja. Pense em áreas da igreja que estejam carentes e nas quais você possa colaborar, usando seus dons. Reúna-se com seus colegas de classe e discuta com eles o que vocês podem fazer efetivamente pela igreja, para demonstrar que o Espírito Santo age em vocês e, pela ação do Espírito, vocês também podem agir pela igreja. Depois, comuniquem ao pastor a decisão do grupo e peçam o auxílio dele.

>> Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, na série Expressão – Vencendo a Ansiedade. Usado com permissão.