Está o Batismo Infantil contido nas Escrituras?

por   Igreja Presbiteriana do Brasil

Batismo é uma ordem da Igreja Cristã. De acordo com a divina instrução ele é administrado pela igreja, e ele é o rito que inicia a membresia da igreja visível. O argumento para o batismo infantil, entretanto, está relacionado de perto à questão da natureza da igreja.

No senso mais direto a igreja é a companhia dos regenerados ou dos homens e mulheres de fé. Os fatos da regeneração e fé pertencem, entretanto, ao reino invisível e espiritual, e por essa razão nenhum homem é infalível para determinar quem pertence à igreja nem ao menos determinar qual o exato limite de um corpo em um lugar ou geração. Conseqüentemente, quando nós estamos falando da igreja, nesse seu sentido estrito, nós falamos sobre ela como a igreja invisível.

Mas a igreja não é sempre totalmente invisível para a apreensão humana. Aqueles que pelos efeitos da regeneração e fé constituem o corpo de Cristo dão uma expressão observável para essa fé que eles possuem. Isso eles não fazem somente em suas capacidades individuais como membros do corpo de Cristo, mas também em suas relações coletivas e obrigações. De acordo como o mandamento divino é uma necessidade interna eles se associem uns com os outros. Eles organizam com o propósito de testemunhar, adorar, administrar os sacramentos, edificação mútua e encorajamento, e para o exercício da disciplina. Essa organização ou associação visível não é regida pelo planejamento humano, mas pela instituição divina. Então nós também temos o que é conhecido como a igreja visível.

Agora, apesar da igreja invisível, em qualquer outro lugar ou geração, seja composta exclusivamente dos regenerados, a igreja visível não é composta desta forma. Isso serve para dizermos que a igreja visível não é nem em número e nem em sua moral, a exata reprodução da igreja invisível. Desde que nenhum homem ou mulher pode infalivelmente ler o coração uns dos outros, a igreja visível é constituída daqueles que fazem uma consistente e inteligente profissão de fé em Cristo e prometem obedecer a Ele. Essa profissão de fé, apesar de ser uma profissão que somente um verdadeiro crente pode verdadeiramente e honestamente fazer, é ainda de tal natureza que aqueles que não têm verdadeira fé podem fazê-la para a satisfação daqueles responsáveis pela admissão na igreja visível. A igreja visível, então, está circunscrita não pela linha da regeneração, mas pela linha da profissão de fé inteligente e consistente.


A Igreja no Antigo Testamento

Uma vontade distinta, obviamente, tem que ser traçada entre a igreja visível como existia na dispensação do Antigo Testamento e como existe atualmente. Tal distinção foi obviamente indicada nas palavras do Senhor a Pedro quando Ele disse, “Tu és Pedro, e sobre essa rocha Eu edificarei minha igreja: e os portões do inferno não prevalecerão contra ela” (Mat. 16:18). Ele estava se referindo para a nova forma e caráter que a igreja estaria assumindo como reino de Deus ou reino celeste em conseqüência da sua Missão e Ação Messiânica. Ele a chama “minha igreja”.

Mas enquanto total concessão precisa ser feita para a distinção e para uma nova forma de administração que foi conduzida especificamente pela morte, ressurreição, e ascensão de Cristo e pelo derramamento do Espírito no Pentecostes, todavia essa distinção não garante a negação da existência da igreja no senso mais genérico do Antigo Testamento. Existe de fato uma unidade e identidade profunda entre a igreja no Antigo Testamento e a igreja no Novo.

Para que o povo de Deus no Antigo Testamento pertencesse, como o Apóstolo Paulo nos diz, “a adoção, e a glória, e os pactos, e a Lei outorgada, e o serviço de Deus, e as promessas” (Rom. 9:4). A igreja do Novo Testamento é a extensão e desdobramento do pacto feito com Abraão e é, entretanto, encontrado sobre ela. Esse é claramente o argumento de Paulo na Epistola aos Gálatas quando ele diz que “Aqueles que são da fé são abençoados com Abraão”, e que “o pacto, que foi confirmado perante Deus em Cristo, a lei, a qual foi quatrocentos e trinta anos depois, não pode ser anulada, pois faria a promessa sem efeito algum” (Gal. 3:9, 17). Então ela é a bênção de Abraão, uma bênção que foi dele nos termos do pacto administrado para ele, que veio sobre Gentios através de Jesus Cristo (ver, versículo 14 de Gal. 3). A igreja, então, como ela existia nas duas dispensações não são dois organismos. Os dois estágios devem ser observados, como Paulo nos ensina, sobre a figura de uma oliveira, uma árvore, obviamente, com muitos galhos, mas ainda sim uma só árvore crescendo da mesma raiz (Rom. 11:16-21). Os Gentios eram em um tempo “aliens no meio de Israel, e estranhos no pacto da promessa” (Ef. 2;12), mas agora eles “não são mais estranhos e estrangeiros, mas concidadãos com os santos, e parte da família de Deus, e são firmados sobre a fundação dos apóstolos e profetas, Jesus Cristo sendo Ele mesmo a pedra angular” (Ef. 2:19-20).

Então não é somente necessário, mas bíblico falar sobre a igreja do Antigo Testamento. Existe uma continuidade e unidade orgânica, e qualquer tentativa de negar esse fato, ou qualquer método de interpretação que tende a prejudicar tal verdade, deve ser condenada com base na própria escritura.


O Sinal da Circuncisão

Agora se a igreja no sentido genérico existia no Antigo Testamento, devemos admitir que em sua organização e administração visível ela inclui não somente todos aqueles que professam a verdadeira religião, mas também seus filhos. O sinal do pacto administrado para Abraão era a circuncisão. Esse sinal e selo, não demonstravam mero privilégio de uma nação, mas, como nós apresentamos agora, uma benção espiritual, foi por ordem divina administrada para as crianças com oito dias de idade. Todos os homens nascidos dentro do relacionamento do pacto, em outras palavras, todos os que recém nascidos dos quais os pais estavam dentro de uma esfera de privilégio e fé, deveriam ser circuncidados.

Circuncisão significava fundamentalmente a retirada de uma impureza a fim de que houvesse uma participação no pacto de bênçãos. Um estudo das seguintes referências tornará isso claro para nós: Êxodo, 6:12, 30; Levítico, 19:23; 26:41; Deuteronômio, 10:16; 30:6; Jeremias, 4:4; 6:10; 9:25. E junto com os esses textos Paulo nos ensina que circuncisão era um selo de retidão que Abraão tinha enquanto ele era ainda incircunciso (ver Rom. 4:11). Esses dois significados básicos, o primeiro sobre o remover da impureza ou purificação, o segundo a imputação da retidão fé, isso será realmente visto, pois esses pontos não são contraditórios, mas se completam mutuamente.

É necessário para nós, fazer uma pausa e analisar o seguinte ponto para nosso conforto: Que por indicação divina e ordem expressa o sinal e selo das realidades espirituais, realidades que só poderiam ser aplicadas através da operação graciosa do Espírito de Deus, forem administrados (o sinal e o selo) também para crianças.

Agora nós podemos antecipar a objeção: Tudo isso é concebido, mas para qual proveito para a doutrina em questão? O que tem isso tudo a ver com a questão do batismo infantil?

Acontece que circuncisão significa basicamente a mesma coisa que batismo. Que batismo significa purificação do pecado pela regeneração do Espírito e purificação da culpa do pecado pela retidão de Cristo, a retidão da fé, aparece diretamente no Novo Testamento. Que, nós já temos encontrado, é o verdadeiro significado da circuncisão. Existe, entretanto, uma identidade básica sobre sentido e significado. Circuncisão, carregando o mesmo significado do batismo, era administrada a crianças que nasciam debaixo de um pacto de relacionamento e privilégio que era derramado do pacto feito com Abraão.


O Sinal Perpétuo do Pacto


Nós já descobrimos que a dispensação do evangelho está de acordo com, e em busca do pacto feito com Abraão. Ele, Abraão, é o pai de todos os da fé. Aqueles que são da fé são abençoados juntamente com Abraão. Agora, se crianças nascem de pais crentes debaixo da antiga dispensação elas recebiam o sinal do pacto, um sinal do pacto que carrega o mesmo significado central como o batismo o faz, devemos nós crer que crianças estão excluídas do sinal e selo do pacto no Novo Testamento? Isso não deve ser muito estressado que a administração neotestamentária é a elaboração e desenvolvimento do pacto abraâmico. Se crianças são excluídas agora, deve ser entendido que essa mudança implica em uma reversão completa ou aversão à prática divina primeiramente instituída. Então devemos perguntar seriamente: podemos nós encontrar no Novo Testamento alguma dica ou direcionamento de tal reviravolta? Mais particularmente, tem o Novo Testamento revogado tão expressivamente pensado e autorizado um princípio como a inclusão das crianças no sinal e selo do pacto? E uma prática da divina administração do pacto da graça, que tem sido exercida por mais de dois mil anos foi simplesmente excluída?

Quando nós examinamos o Novo Testamento, não podemos encontrar tais evidências. Mas, em vista da identidade básica e significado da circuncisão e batismo, em vista da unidade e continuidade do pacto nos termos pelos quais o sinal do pacto nos foi dado, nós podemos dizer com confiança que a evidência de rejeição é determinante se a prática ou princípio devem ser excluídos. Então, na ausência de rejeição e na presença de uma evidência de continuidade do pacto, nós concluímos que a administração do sinal para as crianças filhos e filhas de crentes têm garantia e autoridade divina perpétua. São simplesmente essas considerações que conclamam o ponto de John Lightfoot, “Não é proibido batizar crianças, entretanto eles não devem ser batizados”. O mandamento divino para administrar o sinal do pacto às crianças não foi revogado, então ele ainda está em vigor.


Objeções Inválidas

Os oponentes ao batismo infantil querem apelar para o fato que não existe um mandamento expresso para o batismo infantil e que nós não temos no Novo Testamento um caso explícito e provado de batismo infantil. A resposta para tal objeção é aparente. Em vista das bases as quais, por autoridade divina, a inclusão das crianças não repousa na recepção do sinal do pacto, um mandamento expresso ou um caso concreto não é necessário.

Também será questionado que existem diferenças entre circuncisão e batismo. Por exemplo, circuncisão era administrada somente para homens, batismo é administrado tanto para homens quanto para mulheres. Essa diferença, obviamente, não é negada. Mas como objeção é singularmente inválida. Devemos lembrar que essa diferença não só é em termos de homens e mulheres como também de crianças e adultos. Sendo adultos, assim como crianças em Israel somente homens carregavam esse sinal do pacto. No Novo Testamento mulheres adultas, assim como homens adultos, carregam o sinal do batismo. Se essa diferença é manifestada entre adultos porque também não deveria ser manifestada entre as crianças? A abolição da distinção entre gêneros entre crianças é perfeitamente harmonioso com esse assunto de gêneros também entre adultos. De fato, se batismo é administrado para crianças, então a abolição da distinção entre crianças, homens e mulheres, segue necessariamente a prova da abolição da distinção entre adultos, homens e mulheres.

Porque na sabedoria divina debaixo da antiga economia um sinal foi escolhido que não pudesse ser administrado para as mulheres não cabe a nós saber. Mas a extensão do sinal do pacto incluir mulheres como membros da igreja no Novo Testamento está durante todo o tempo de acordo com a expansão do privilégio que a revelação do Novo Testamento sinaliza. Nas palavras do Dr. Samuel Miller, “Ainda que o batismo declaradamente venha para tomar o lugar da circuncisão, existem pontos que o atual difere na forma do antigo sinal. E ele difere precisamente de acordo com aqueles pontos em referência na qual o Novo Testamento difere do Antigo Testamento e ser mais expansivo, e menos cerimonial. Batismo não é uma restrição cerimonial ao oitavo dia, mas pode ser administrado em qualquer hora e qualquer lugar. Não está confinado a um gênero, mas, a gloriosa dispensação da qual é o selo, ela marca a expansão do privilégio, e é administrada de uma forma que lembra que ‘Não há Grego, nem Judeu, nem escravo ou livre, nem homem ou mulher, na administração cristã, mas somos todos, um em Cristo Jesus’”.


Seguem passagens bíblicas, textos dos Símbolos de Fé da IPB, Manual Presbiteriano (Princípios de Liturgia), Manual Litúrgico da IPB, opiniões teológicas (doutrinárias) de autores conhecidos e respeitados na IP do Brasil e em outras denominações eclesiásticas. Nosso desejo é que o Senhor abençoe grandemente o estudo sobre o assunto em pauta. Uma boa leitura a todos em nome de Jesus Cristo.

2- Catecismo Maior:

Pergunta 165 – O que é Batismo?

Resposta: Batismo é um sacramento do Novo Testamento no qual Cristo ordenou a lavagem com água em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, para ser um sinal e selo de nos unir a si mesmo, da remissão de pecados pelo seu sangue e da regeneração pelo seu Espírito; da adoção e ressurreição para a vida eterna; e por ele os batizando são solenemente admitidos à Igreja visível e entram em um comprometimento público, professando pertencer inteira e unicamente ao Senhor (Mt 28:19; Gl 3:26 e 27; At 2:41; Rm 6:4).

Pergunta 166 – A quem deve ser administrado o Batismo?

Resposta: O Batismo não deve ser administrado aos que estão fora da igreja visível, e assim estranhos aos pactos da promessa, enquanto não professarem a sua fé em Cristo e obediência a Ele; porém as crianças, cujos pais, ou um só deles, professarem fé em Cristo e obediência a ele, estão, quanto a isto, dentro do pacto e devem ser batizadas (At 2:38 e 39; 1 Co 7:14; Lc 18:16; Cl 2;11 e 12).

3- Manual Presbiteriano – Princípio de Liturgia; Capítulo V; Batismo de Crianças:

Art. 11 – Os membros da Igreja Presbiteriana do Brasil devem apresentar seus filhos para o batismo, não havendo negligenciar essa ordenança. § 4º – Nenhuma outra pessoa poderá acompanhar os pais ou responsáveis no ato do batismo das crianças a título de padrinho ou mesmo de simples testemunha.

4- Teólogo L. Berkhof:

“Com fundamento em nossos padrões confessionais, pode-se dizer que os filhos pequenos de pais crentes são batizados com base em que são filhos da aliança e, como tais, são herdeiros das amplíssimas promessas pactuais de Deus, que incluem também a promessa de perdão dos pecados e da dádiva do Espírito Santo para a regeneração e a santificação. Na aliança Deus lhes dá certa concessão ou dádiva de maneira formal e objetiva, exige deles que, no devido tempo, aceitem isto pela fé, e promete fazer disso uma vivida realidade nas vidas deles, pela operação do Espírito Santo. E, em vista deste fato, a Igreja deve considerá-los como herdeiros prospectivos da salvação, deve considerá-los como estando na obrigação de andar nas veredas da aliança, tem o direito de esperar que, sob uma fiel administração pactual, eles, falando em termos gerais, vivam segundo a aliança, e é seu dever considerá-los como infratores da aliança, se não cumprirem as exigências desta. É unicamente deste modo que se faz plena justiça às promessas de Deus, que em toda a sua plenitude deverão ser assimiladas pela fé por aqueles que chegarem à maturidade. Assim, a aliança, incluindo as promessas pactuais, constitui a base legal e objetiva do batismo de crianças. O batismo é sinal e selo de tudo quanto as promessas abrangem”4.

5- Rev. Augustus Nicodemus Lopes:

A prática de batizar os filhos dos cristãos vem desde os primórdios do cristianismo. Pais da Igreja, como Irineu (século II), se referem ao batismo infantil. Orígenes (século IV) foi batizado quando criança. Hoje, milhares de cristãos evangélicos no mundo continuam a prática, embora alguns pais permitam que seus filhos sejam batizados apenas porque faz parte da tradição religiosa na qual nasceram. Para outros, o batismo é um ato pelo qual consagram seus filhos ao Senhor, com votos solenes de educá-los nos caminhos de Deus até a idade da razão. Evidentemente nem todos os evangélicos concordam que o batismo infantil seja a única maneira de se fazer isso. Muitos preferem apresentar seus filhos ao Senhor, sem batizá-los, pois, acreditam que o batismo é somente para adultos que creem. Porém, tanto os que batizam seus filhos, quanto os que os apresentam, têm um desejo só, de vê-los crescer nos caminhos do Evangelho, e, quando chegarem à idade própria, publicamente professar sua fé pessoal em Cristo Jesus. Alguns me perguntam por que apresentei meus quatro filhos para serem batizados, quando cada um ainda não tinha mais que dois meses. Minha resposta é que acredito estar seguindo a tradição bíblica, que remonta ao tempo do Antigo Testamento, e que não foi abolida no Novo, de incluir os filhos dos fiéis na aliança de Deus com o seu povo. Batizei meus filhos crendo que, através desse rito iniciatório, eles passaram a fazer parte da Igreja visível de Cristo aqui na terra. Minha crença sé baseia no fato de que, quando Deus fez um pacto com Abraão, incluiu seus filhos na aliança, e determinou que fossem todos circuncidados (Gn. 17.1-14). A circuncisão, na verdade, era o selo da fé que Abraão tinha (ver Rm 4-3,11 com Gn 15.6), mas, mesmo assim, Deus determinou-lhe que circuncidasse Ismael e, mais tarde, Isaque, antes de completar duas semanas (Gn. 21.4). Abraão creu e o sinal da sua fé foi aplicado a Isaque, mesmo quando este ainda não podia crer como seu pai. Mais tarde, quando Moisés aspergiu com o sangue da aliança as tábuas da Lei dada por Deus, aspergiu também todo o povo presente no monte Sinai, incluindo obviamente as mães e seus filhos de colo (Hb 9.19-20). Estou persuadido de que a Igreja cristã é a continuação da Igreja do Antigo Testamento. Símbolos e rituais mudaram, mas é a mesma Igreja, o mesmo povo. O Sábado tomou-se em Domingo, a Páscoa, em Ceia, e a circuncisão, em batismo. Os crentes são chamados de “filhos de Abraão” (Gl 3.7,29) e a Igreja de “o Israel de Deus” (Gl 6.16). Não é de se admirar que Paulo chame o batismo de “a circuncisão de Cristo” (Cl 2.11-11). Foi uma grande alegria ter meus filhos batizados e vê-los, assim, receber o selo da fé que minha esposa e eu temos no Senhor Jesus. Deus sempre tratou com famílias (Dt 29.9-12), embora nunca em detrimento da responsabilidade individual. Assim, Deus mandou que Noé e sua família entrassem na arca (Gn. 7.1), chamou Abraão e sua família (Gn 12.1-3) e castigou Acã, Coré e suas famílias juntamente. Paulo, ao refletir sobre a história de Israel e ao mencionar a passagem dos israelitas pelo Mar Morto, diz que todo o povo foi batizado com Moisés, na nuvem e no mar inclusive as crianças, é claro, pois havia milhares delas (1 Co 10.1-4). Não é de se admirar, portanto, que Pedro, no dia de Pentecostes, ao chamar os ouvintes ao arrependimento, à fé em Cristo e ao batismo, disse-lhes que a promessa do Espírito Santo era para eles e para seus filhos (At 2.38-39). E não é de admirar que os apóstolos batizavam casas inteiras em suas viagens missionárias: Paulo batizou Lídia e toda sua casa (At. 16.15), o carcereiro e todos os seus (At 16.3233), a casa de Estéfanas (1 Co 1.16). É verdade que não se mencionam crianças nessas passagens, mas o entendimento mais natural de “casa” e “todos os seus” é que se refira à família do que creu e fica difícil imaginar que, se houvesse crianças, elas teriam sido excluídas. Pois, para Paulo, os filhos dos crentes eram “santos” (1 Co 7.14), ao contrário dos filhos dos incrédulos. Talvez ele estivesse seguindo o que o Senhor Jesus havia dito, que não impedissem as crianças de virem a Ele (Mc 10.13-16). Compreendo a dificuldade que alguns terão quanto ao batismo infantil, pois não há exemplos claros de crianças sendo batizadas no Novo Testamento. É verdade. Mas é igualmente verdade que não há nenhum exemplo de um filho de crente sendo batizado em idade adulta. Neste caso, talvez seja mais seguro ficar com o ensino do Antigo Testamento. Se os judeus que se converteram a Cristo não podiam batizar seus filhos, era de se esperar que houvesse alguma proibição neste sentido por parte dos apóstolos, já que estavam acostumados a incluir seus filhos em todos os aspectos da religião judaica. Mas não há nenhuma proibição apostólica quanto a isso. Compreendo também que alguns têm dificuldades com o batismo infantil por causa da prática da Igreja Católica e de algumas denominações evangélicas, que adotam a ideia da regeneração batismal, isto é, que, pelo batismo, a criança tenha seus pecados lavados e seja salva. Pessoalmente não creio que seja este o ensino bíblico. O batismo infantil não salva a criança. Meus filhos terão de exercer fé pessoal em Cristo Jesus. Não serão salvos pela minha fé ou da minha esposa. Eles terão de se converter de seus pecados e crer no Senhor Jesus, para que sejam salvos. O batismo foi apenas o ritual de iniciação pelo qual foram admitidos na comunhão, da Igreja visível. Simboliza a fé dos seus país nas promessas de Deus quanto aos seus filhos (cf. Pv 22.6; At 2.38; At 16.31) e expressa os termos da aliança que nós e nossos filhos temos com o Senhor (Dt 6.6,7; Ef 6.4). Se, ao crescer, uma criança que foi batizada resolver desviar-se dos caminhos em que foi criada, é da sua inteira responsabilidade, assim como os que foram batizados em idade adulta, e que se desviam depois. Certamente que o Novo Testamento fala do batismo como sendo uma expressão de fé e de arrependimento por parte daqueles que se convertem a Cristo – coisas que uma criança em tenra idade não pode fazer. Por outro lado, lembremos que passagens assim não tinham em vista os filhos dos fiéis, mas toda uma primeira geração de adultos que se converteram pela pregação do Evangelho. Mas, ao fim, tanto os que batizaram seus filhos quanto os que os apresentaram, devem orar com eles e por eles, serem exemplos de vida cristã, levá-los à Igreja, instruí-los nas Escrituras e viver de tal modo que, ao crescer, os filhos desejem servir ao mesmo Deus de seus pais.

6- Rev. Hernandes Dias Lopes:

As crianças fazem parte da família de Deus. Deus firmou conosco uma aliança eterna, prometendo ser o nosso Deus e o Deus dos nossos filhos (Gn 17.1-10). O selo espiritual dessa aliança foi a circuncisão (Rm 4.16-18; Gl 3.8,9,14,16). A circuncisão era o rito de entrada no pacto. A criança era circuncidada ao oitavo dia e a partir daí participavam dos benefícios do pacto (Gn 17.10; Is 54.10,13; Jr 31.34). O pacto feito com Abraão, o pai da fé, não foi ab-rogado (Is 59.20,21; At 2.37-39). A promessa está vigente na nova dispensação (Rm 4.13-18 e Gl 3.13-18). Na nova dispensação os infantes não foram excluídos. O Novo Testamento confirma que as crianças de pais crentes era membros da igreja (Mt 19.14; Jo 21.15; At 2.39; I Co 7.14). Temos forte evidência de que os apóstolos batizaram crianças (At 10.48; 11.14; 16.15; 16.33; 18.8; I Co 1.16; I Co 7.14). Outrossim, os principais pais da igreja, como Justino, o mártir, Irineu, Orígenes, Agostinho e Tertuliano fizeram menção dessa prática apostólica. Os teólogos reformados e as principais confissões de fé da igreja reformada também defenderam a prática do batismo infantil, como a Confissão belga, O Catecismo de Heidelberg, os Cânones de Dort e a Confissão de Fé e os Catecismos de Westminster.

Respostas aos que se opõem ao batismo infantil e levantam algumas objeções:

A- As crianças não podem exercer uma fé pessoal em Cristo como seu salvador e por isso não devem ser batizadas (Mc 16.16). Esse texto não está endereçado às crianças. Porque a dedução lógica, então, seria que a criança por não crer está condenada, enquanto o próprio Jesus disse que das tais é o Reino dos céus. O apóstolo Paulo disse também: quem não quer trabalhar, também não coma. Poderíamos nós aplicar esse texto a uma criança?
B- O batismo das crianças inconscientes é uma violação da sua liberdade de escolha pessoal. Não foi essa a visão de Josué quando disse: “Eu a minha casa serviremos ao Senhor” (Js 24.15). Nos pactos de Deus com o seu povo, os pais sempre foram legítimos representantes dos seus filhos (Gn 9.8,9; 17.7). Os pais escolhem vestuário, alimentação, escola. Não teria que decidir sobre a quem a criança deve adorar? O argumento teria que ser usado também para o caso da criança que era circuncidada ao oitavo dia.
C- Não há no NT nenhum mandamento expresso para se batizar criança. Não há necessidade, pois que não há nenhum que o proíbe. Então, o princípio não foi ab-rogado. Já que o batismo substituiu a circuncisão, o batismo infantil está absolutamente legitimado no NT.
D- O batismo não pode ser substituto da circuncisão, por que esta era só aplicada aos do sexo masculino. As mulheres no velho pacto eram representadas pelos pais e pelos maridos. Entretanto, no NT Cristo conferiu novos direitos à mulher (Gl 3.28).
E- A circuncisão era apenas um distintivo de nacionalidade entre os judeus, sem significação religiosa. Esse não é o ensinamento das Escrituras como podemos testificar em Rm 4.10,11; Dt 10.16; 30.6.
F- Se o batismo é o sinal da recepção da criança na igreja, assim como os adultos, porque eles então não participam da Ceia? No rebanho há cordeirinhos e ovelhas. O adulto senta-se à mesa e come feijoada, a criança leite. Nem por isso, a criança deixa de ser membro da família. Uma criança não pode votar, nem por isso deixa de ser cidadã.
G- Quando se batiza uma criança não se pode ter certeza da sua regeneração, ela pode se desviar. O mesmo pode acontecer com os adultos. Batizamos pela ordenança do pacto (Pv 22.6).
H- Por que então, Jesus não foi batizado na infância e por que ele não batizou as crianças que vieram a ele? Primeiro, porque Jesus foi circuncidado ao oitavo dia (ato semelhante ao batismo infantil). Segundo, porque o batismo cristão ainda não havia sido instituído. Portanto, estava em vigência a circuncisão. O batismo cristão foi instituído depois da ressurreição de Cristo (Mt 28.19).

7- Manual Litúrgico da IPB:

“Assim, os filhos dos crentes não têm menos direito hoje ao sacramento do batismo do que a descendência de Abraão tinha ao rito da circuncisão. De outro modo a Escritura não daria aos filhos dos crentes o nome de santos (1 Co 7:14), com que na Sagrada Escritura são designados os membros da Igreja, nem tampouco nosso Senhor os teria tratado nesta relação dando-lhes a sua benção, e declarando que ‘dos tais é o reino de Deus’” (Mc 10:14).

A Benção do Deus da aliança, o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o Deus de nossos pais, o Pai e o Filho e o Espírito Santo, seja com vocês e com os seus filhos para sempre. Amém.

Obs.: A pesquisa, resumo, sublinhar e adaptações foram realizadas pelo Rev. Miguel Munhós Filho – miguelmunhos@yahoo.com.br

Fontes:
1 A Confissão de Fé, Catecismo Maior e o Breve Catecismo, 1991, pp. 141 – 145.
2 Idem, pp. 349 e 350..
3 Manual Presbiteriano; Princípio de Liturgia; Capítulo V; Batismo de Crianças, 2014, p. 126..
4 Louis Berhkof, Teologia Sistemática, 2004, 2º Ed. Português, pp. 589 e 590.
Link
6 Hernandes Dias Lopes – Link
7 Manual Litúrgico da IPB, 1992, pp. 88 e 89.b


Os cristãos reformados baseiam a prática do batismo infantil na teologia da aliança. A igreja é uma comunidade de aliança que inclui crentes professos e seus filhos menores.
Você quer entender porque estas igrejas fazem isso? Qual a importância dessa prática? Quais benefícios ela traz para a pessoa, família e igreja? Estes livros o ajudarão a compreender melhor esse assunto:

Filhos da promessa-gFilhos da Promessa: A defesa bíblica do batismo dos filhos dos crentes 
 
Uma abordagem simples da base bíblica para a prática do batismo dos filhos dos crentes em nossos dias. Uma demonstração de que essa prática histórica repousa não sobre tradições ou conveniência, nem apenas na legislação eclesiástica, mas sobre um entendimento definido de modo bíblico e evangélico.
 
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batismoinfaltilO batismo infantil: O Que os Pais Deveriam Saber acerca deste Sacramento (Editora Puritanos).
 Os pais cujos filhos têm sido batizados, ou serão batizados, acharão que este livro conciso é justamente o que necessitam para entender o batismo de crianças. O livro explica claramente, de uma maneira positiva e não polêmica, as responsabilidades práticas de pais cristãos e as promessas de Deus com respeito a eles.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
bapEstudos Bíblicos sobre o Batismo de Crianças – Philippe Landes
Eis aí um assunto tantas vezes evitado, em grande parte por causa de nosso presbiteriano espírito fraternal, que nos leva a nos abstermos de controvérsia com irmãos. Contudo, como o assunto é tão explorado pelos irmãos em Cristo que de nós divergem — e divergem porque não conhecem pontualmente o ensino bíblico — é justo que sejam esclarecidos os crentes que não atingiram ainda a compreensão necessária do ensino bíblico sobre o batísmo infantil.
Antigo missionário, professor numa grande casa de ensino teológico, o Rev. Philippe Landes une a cultura sólida e amor às almas e dá-no, com este volume, um estudo seguro e útil.
 
 
 
 

OUTROS MATERIAIS:

— Vídeo:  Uma Defesa do Batismo Infantil e por Aspersão – Leandro Lima – clique aqui